sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Tempo

Ana Carolina

Chuva fina batendo na vidraça, o cheiro de laranja no fundo do quintal, os passos dela na varanda junto aos meus suspiros afastando as cortinas. Ela combina a blusa com o sapato, a bolsa com a flor no cabelo, a boca com o meu paladar, saboroso como o chuvisco que falo.

Em dois minutos ela entrará pela porta.
- Não encontro minha pulseira dourada.

- Está no banheiro.

- Já procurei e não encontro.

- Está no banheiro, tenho certeza.

Eu, sentada na escrivaninha, não desvio os olhos do jornal e o café já frio.

- Não vais levar um casaco?

- A chuva já está parando.

- Mas o frio não.

A pulseira está ao lado do perfume no banheiro, como eu havia dito. Ela não levou o casaco e a chuva permanece. Deixou a sombra de seu despeito no parapeito da minha incerteza. Pensa que eu gostaria é de prendê-la em meus braços e nunca deixa-la ir. Pensa certo. Invariavelmente e para minha solidão, ela parte.
Espalho meus olhos pelo vão que deixou na porta enquanto o dia termina. O sol invadindo a persiana, sinto o toque delicado dos seus pés frios nos meus.
- Te amo. – ela me sussurra.

Adormeço.









2 comentários:

  1. Adorei!!!
    Copiado e colado.
    Esse sussurro...humaiaiai
    Em apenas alguns segundos conseguimos dizer
    Te amo,
    tendo reflexo as vzs maravilhoso em mais de 24h.

    BEijks Pantera S2

    ResponderExcluir
  2. A tranquilidade de um "te amo", muda tudo.

    ResponderExcluir