domingo, 1 de maio de 2011

Avesso

Leonid Afremov


Sou do fundo das águas mais doces
E dor mares mais revoltos
Minha impostura e sonora e com ela caminha
Um vulto impressionante de saudade
Que me mantém perto do céu
Minha decência, assim como minha liberdade é efêmera
Admiro a maneira com que as pessoas me observam
Nunca encontram exatamente o que procuram
Apenas meus sentimentos singelos
São revelados pela minha face
Nem meu âmago, nem meus gestos, nem meus olhar,
Expressam qualquer coisa que me condene
Palavras já não me surpreendem
Nem motivam minha transparência
A intriga dos anjos é que me comove
Apenas o canto mais belo, da voz mais firme
E ao mesmo tempo suave e límpida
É capaz de revelar minha verdadeira forma
É nela que se encontram minhas virtudes
E somente ela pode fazer
Transparecer as sensações de minha alma
Meus sonhos são fruto da verdade irreverente do que sinto
E o que sinto é tão desleal que minha vigilância ininterrupta
É capaz de acompanhar
Meu íntimo submerge apenas num manso lago
Onde possa descansar sua ironia e seu sarcasmo sem que seja perturbado
Enquanto isso, meus pensamentos tempestuosos concentram-se no eco da
Amargura das coisas que deixei pelo chão
“Pois o amor não é doce
Pois o bem não é suave
Pois amanhã, como ontem
É amarga a liberdade”




Trecho final: Cecília Meireles




2 comentários:

  1. Se o bau da pantera se abrir nao vmos ter mais surpresas...
    esses textos jamais fica no esquecimento
    sempre bom estar aqui
    Te adogo
    bj abç

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  2. Esse texto é um dos primeiros que escrevi.
    É um pouco infantil se comparado aos de agora, mas resolvi postar pela importância dele.

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